Para atingir a meta de ficar entre os cinco melhores países do mundo nosJogos Paraolímpicos do Rio, em setembro –feito que vai exigir em torno de 30 medalhas de ouro–, uma estratégia de valorização e treinamento de um “time de elite” foi montada pelo comitê brasileiro.
Desde 2010, um grupo de 40 potenciais medalhistas é acompanhado e cercado de atenção que envolve deslocamento de suas cidades natais para grande centros, estafe de profissionais de ponta para aumento do rendimento e de resultados, acesso a patrocinadores e gratificações que podem atingir R$ 40 mil.
A maior parte da nata paraolímpica está nas modalidades que mais rendem premiações, o atletismo e a natação. Mas há também representantes em outros esportes como a canoagem, o futebol de 5 (jogado por cegos), a bocha e o vôlei sentado.
A melhor performance do Brasil até agora em Jogos Paraolímpicos foi em Londres-12, quando conquistou 21 ouros (além de quatro pratas e oito bronzes) e ficou em 7º no quadro de medalhas.
SANGUE
Atual campeã mundial no salto em distância para pessoas com deficiência visual, Silvania Costa de Oliveira, 28, é exemplo da estratégia adotada pelo CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro).
O talento dela foi descoberto em Três Lagoas (MS), onde participava de competições amadoras. Sua primeira prova, de 10 mil metros, foi feita sem guia e sem nenhum preparo técnico ou físico.
Ela correu em busca dos R$ 300 de premiação. “Tinha uma dívida que precisava ser paga ou minha filha iria ficar sem leite. Corri com toda a minha força. Em certo momento, senti muita dor na cabeça e gosto de sangue na boca. Nada importava. Ganhei.”
Trazida para São Paulo, onde teve acesso a um suporte profissional de ponta, Silvania começou a se destacar no cenário internacional. Ela diz que lida bem com a pressão para obter bons resultados e que está preparada para ganhar o ouro em casa.
“Hoje sou a melhor do mundo e tenho uma estrutura de grandes atletas. Tudo isso me traz muita segurança”, afirma.
LIVRO
Edilson Alves da Rocha, o Tubiba, diretor técnico do CPB, avalia que apenas com a sanção da Lei Agnelo Piva, em 2001, que garante investimentos permanentes no esporte, foi possível construir um planejamento financeiro capaz de viabilizar o traçado de metas e de resultados.
“Hoje, podemos traçar o caminho perfeito do atleta, com programas de treinos e de competições, até ele virar um campeão”, diz Tubiba.
Segundo o diretor, houve também “uma preocupação com as equipes técnicas, que foram trazidas das melhores universidades. Os profissionais foram se formando com um olhar atento às necessidades dos atletas com deficiência. Não só de treino, mas também de reabilitação.”
Outro exemplo do êxito do programa de elite do comitê é o corredor Yohansson do Nascimento Ferreira, 28, que ganhou um ouro e uma prata em Londres-2012 e é tido como favorito para dois pódios de primeiro lugar no Rio.
“Levo com muita naturalidade ser de uma elite paraolímpica e o fato de esperarem bons resultados de mim. Sei dos meus compromissos, mas ajo como se estivesse escrevendo um livro: faço um capítulo, viro a página e encontro uma página em branco. Só no final da obra vou saber dizer o que isso significou pra mim”, declara Nascimento.
O corredor nasceu com uma má-formação congênita nos braços. Saiu de Alagoas, em 2007, para se dedicar ao esporte, em São Paulo.
Para Clarisse Setyon, professora do MBA em negócios do esporte da ESPM, embora seja difícil prever se o modelo de manter uma “elite esportiva” terá vida longa, ele é “importante para aproveitar a janela de visibilidade dos atletas”, com a Paraolimpíada em casa.
“Esporte é movido a resultado, que gera visibilidade, que gera investimento, que traz bons resultados. Aliado a isso, o paradesporto precisa de ídolos, de heróis. Ter um time de elite ajuda nisso.”
Neste ciclo olímpico (desde 2012), o CPB investiu 400 milhões (R$ 100 milhões ao ano).
Fonte: Folha de SP